
Passadiço da Ribeira das Quelhas no Coentral
Enquadramento
Como nota prévia, gostaria de enquadrar esta moda ou tendência em relação aos passadiços em Portugal.
Os passadiços sobrelevados, ou seja, em estrados de madeira como o que se encontra em construção na Ribeira das Quelhas, já são utilizados há bastante tempo. O seu uso não era visto como um equipamento de recreio, mas sim o de evitar a degradação de solos e da flora, como também o de “vencer” obstáculos como pequenos lagos ou rios.
Em Portugal o registo do primeiro passadiço, data da década de 80. Instalado na Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, este equipamento tinha como função a de permitir o acesso à área de reserva integral, sem se calcar ou pisarem as dunas, assim como também a de ultrapassar algumas valas ali existentes.
A instalação de passadiços desde então, foi aumentando e começou nestes últimos anos a deixar de ser um equipamento virado para a prevenção ambiental, mas sim para passar a assumir apenas uma perspetiva mais lúdica e de turismo a qualquer custo. Assim, um dos maiores problemas tem sido a massificação turística em alguns destes locais que tem mesmo levado, a que as condições ambientais junto destas infraestruturas se tenham degradado.
Mas existem bons exemplos e são nestes que deposito a minha esperança.
A Ribeira das Quelhas
A ida a banhos no verão era obrigatória. Não havia adolescente que não ia à Ribeira das Quelhas usufruir daquele espaço de enorme beleza natural e paisagística, geração após geração. Conhecendo muito bem esta área territorial, sempre fui um “embaixador” na sua divulgação, considerando que é um recanto que poucos conhecem, mas que merece ser visitado por quem de bem. É portanto, um local que deve e merece ser partilhado.
A Ribeira das Quelhas nasce na Nascente dos Seixinhos, numa das vertentes a sul do Cabeço do Pereiro, mais conhecido por Santo António da Neve. A partir da sua nascente, todo o percurso desta ribeira é feito por entre quelhas rochosas e penhascos grandiosos de xisto, resultado em lindíssimas quedas de água, como as imagens no final do artigo o demonstram.
Local de difícil acesso, de pastoreio, da prática de Caminhadas e de Canyoning, também outrora foi de refúgio às invasões francesas. Estamos pois, perante uma verdadeira maravilha da Serra da Lousã.
O Passadiço da Ribeira das Quelhas
De Norte a Sul, existem muitos passadiços para usufruirmos da natureza de uma forma mais cómoda. No interior, não faltam exemplos, sendo que os Passadiços do Paiva são os mais reconhecidos pelo “sucesso” turístico que tem tido.
Regressando ao Passadiço da Ribeira das Quelhas, este terá uma extensão de 1200m, estando localizado junto da aldeia do Coentral Grande. Uma aldeia histórica de Portugal, onde no século XVIII, o Rei e a Corte portuguesa em Lisboa, beneficiavam em pleno verão do conforto proporcionado pela neve que era recolhida pelos habitantes desta aldeia. Chamavam-lhes, Os Neveiros do Coentral. Já no século passado, eram os têxteis e toda a sua indústria que impulsionava esta terra de gente humilde, sendo que neste novo milénio e com o fim desta indústria têxtil, o Coentral tornou-se numa aldeia apática e condenada ao seu despovoamento praticamente total, onde a única economia atual existente é a agricultura de subsistência.
O Passadiço, enquanto equipamento de conservação da natureza e educação ambiental
Como referi no enquadramento inicial, massificação turística é tudo aquilo que a Ribeira das Quelhas NÃO necessita, muito menos obviamente, perante a situação atual que vivemos (Covid-19).
A Ribeira das Quelhas e o seu Passadiço deverão ser, não apenas um destino turístico de desenvolvimento económico territorial como tantos outros, mas demarcar-se pela diferença. Esta diferença deverá passar por um destino que promova a sua própria conservação e das suas áreas envolventes. Promova e envolva todos os agentes em torno de uma educação ambiental.
A população residente deverá também estar totalmente embutida neste processo que se quer evolutivo, para também assim “retirar dividendos” sociais, económicos e culturais. Terá de ser este o caminho, não poderá ser outro, a bem desta maravilha do Coentral, de Castanheira de Pera, de Portugal.
Deixem a vossa opinião na caixa de comentários, nas redes sociais, por e-mail… Muito importante, sejam não apenas agentes de opinião, mas agentes ativos na conservação da natureza.
Caso entendam e ainda não o fizeram, podem também subscrever a newsletter aqui.
Porque a água continuará a sua passagem por quelhas rochosas e penhascos grandiosos de xisto, visite o Passadiço da Ribeira das Quelhas, deixando este local mais incólume que aquele que encontrou!
Nota: Os Passadiços ainda se encontram em construção, sendo que o acesso aos mesmos se encontram vedados.
Seja responsável e aguarde pela conclusão deste equipamento.
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
- Ribeira das Quelhas – Coentral (Castanheira de Pera)
@jorgenunes.motoLiving here ❤ ##fyp ##ribeiradasquelhas ##foryoupage ##portugal_landscapes ##castanheiradepera ##foryoupage ##relaxingvideo www.jorgenunes.net♬ Nature – Tokalah
Jorge, por um segundo não ponho em causa a sua sinceridade em defesa do ambiente, mas neste caso, lamento ter uma visão diferente do passadiço da Ribeira das Quelhas.
É ainda dos poucos locais do concelho onde a presença humana é diminuta, o que faz com que seja claramente e a olho nu , o sitio e unico mais rico em biodiversidade em todo o concelho, que diga se em abono da verdade, que cada vez mais não passa de um deserto verde. O passadiço irá provocar uma massificação turística é tudo aquilo que ao sitio da Ribeira das Quelhas não necessita em nome da sua preservação e manutenção da biodiversidade (flora, fauna e linha de agua). Mais uma vez atrevo-me a dizer que esse pequeno troço de linha de agua, é das poucas linhas de agua digna desse nome, porque facilmente constatamos que quase totalidade das linhas de agua e cumeadas do concelho se encontram desrespeitadas e destruídas, sem que pouco ou nada se faça em tentar minorar o mal que está feito
Uma vez mais lamento dizer que se recuarmos algumas décadas vamos encontrar o mesmo discurso “destino turístico de desenvolvimento económico territorial. Retirar dividendo sociais, económicos e culturais. Terá de ser este o caminho, não poderá ser outro, a bem desta maravilha, de Castanheira de Pera, de Portugal”. Foi esse mesmo discurso que originou a paisagem insustentável do concelho de Castanheira de Pera que as gerações futuras vão ter que pagar bem cara.
Passadiço esse que no próximo incêndio, que percorrer aquela zona não será mais de que lenha para alimentar as chamas de mais um incêndio. Pois se fizer uma pequena pesquisa de campo verificará o numero de vezes que aquele sitio da Ribeira das Quelhas foi percorrido por incêndios florestais.
C/melhores cumprimentos
Luis Gonzaga
Luis,
Concordo com tudo aquilo que disse e que vai ao encontro das minhas preocupações também, no entanto:
1º Penso que é um local que merece ser partilhado, por quem de bem;
2º Existe toda uma panóplia turística na Serra da Lousã, que os concelhos em volta aproveitam para garantir mais valias. Que a Aldeia do Coentral pode beneficar assim como o Concelho? Sim. Não esquecer que é uma aldeia completamente envelhecida, arrisco a dizer sem futuro;
3º Não pode ser um local turístico massificado. O ICNF não o permite, está no estudo de impacto ambiental que li.
Cá estarei para averiguar dentro das minhas possibilidades.
Forte abraço,
Jorge Nunes