
GhibliArt: Inspiração ou Cópia?
Nos últimos dias, tens provavelmente reparado numa tendência que está a invadir as tuas redes sociais, falo da chamada “ghibliart”. Quer no Facebook, Instagram, TikTok ou até mesmo no Pinterest, o que não faltam são ilustrações que parecem saídas diretamente de um filme do Studio Ghibli. Aquele estilo meio doce, nostálgico, cheio de natureza exuberante, casas com alma e céus que parecem pintados à mão, têm um apelo quase universal. E eu percebo porquê, há algo de mágico na estética e que por isso talvez nos faça querer viver dentro daqueles mundos, mesmo que por breves instantes.
A “ghibliart” é isto mesmo, uma forma de arte que vai se inspirar no universo visual dos filmes do Studio Ghibli, como por exemplo “A Viagem de Chihiro”, “O Castelo Andante” ou o “Meu Amigo Totoro”. Mas não é só fanart direta. Muitos artistas pegam nesta linguagem e aplicam-na a cenas do dia a dia, a personagens originais ou até a locais reais transformados à maneira Ghibli. Vês por exemplo uma casa tipicamente portuguesa, com azulejos e roupa estendida, renderizada num estilo que parece ter sido desenhado pelo próprio Miyazaki e claro, fica espetacular.
Mas como tudo o que se torna viral, começam também agora a surgir algumas questões um pouco mais complexas. Uma delas tem logo a ver com direitos de autor. O Studio Ghibli tem uma identidade visual muito marcada, e, embora fazer arte inspirada neles não seja algo de novo, há aqui uma linha ténue entre homenagem e cópia. Quando usamos personagens ou cenas reconhecíveis, mesmo que seja num estilo teu ou com alterações, estás a entrar num território que pode levantar problemas legais, especialmente se começares a vender essas obras. E sejamos sinceros, por melhor que seja a intenção, muitos artistas ou mesmo marcas, aproveitam-se da popularidade desse estilo para ganhar seguidores ou mesmo dinheiro de forma direta.
Claro que a inspiração é uma das bases fundamentais da arte, e acho que não se deve viver com medo de criar. Mas também acredito que é importante reconhecer de onde vem essa inspiração e, acima de tudo, respeitar o trabalho dos seus criadores originais. Há então uma diferença entre criar uma ilustração com “vibe Ghibli” e fazer uma réplica digital de uma cena de “Totoro” para vender.
E se agora juntarmos a isto, o uso da inteligência artificial, o tema complica-se ainda mais. Hoje em dia, com ferramentas de IA generativa, qualquer pessoa consegue criar imagens “estilo Ghibli” a partir de uma simples descrição como “um comboio a atravessar campos de trigo ao pôr do sol, ao estilo anime nostálgico”. E voilá! Temos, à partida, uma imagem lindíssima em segundos, muitas vezes até quase indistinguível de algo desenhado à mão. Isto, obviamente tem encantado muita gente e confesso que eu próprio já perdi algum tempo a experimentar. Mas levanta questões sérias.
Muitas destas ferramentas foram “treinadas” por assim dizer, com milhões de imagens retiradas da internet, incluindo arte de artistas, muitas vezes sem qualquer autorização. Ou seja, a IA pode estar a gerar obras novas com base em referências protegidas por direitos de autor. E quem é então o “autor” de um resultado gerado por esta via? É justo partilhar, ou pior, vender esse conteúdo como se fosse algo original?
Pessoalmente, acho que a IA é uma ferramenta criativa incrível, já o disse em vários artigos de opinião. Acaba por ser uma espécie de extensão da nossa imaginação, com os nossos “inputs“. Mas também acredito que o valor do trabalho humano, com todas as suas imperfeições, decisões conscientes e toque pessoal, continua e deve continuar a ser o centro da criação artística e o mais valorizado. Quando tudo nos começa a parecer “feito por máquinas”, corremos o sério risco de perder o que torna a arte verdadeiramente especial, a alma de quem a fez.
No fundo a ghibliart, é uma manifestação incrível daquilo que muitos de nós sentimos em relação ao universo Ghibli. Uma vontade de eternizar aquela sensação de aconchego, de maravilha e de contemplação do mundo. É legítimo e até é necessário. Apenas penso que, enquanto criadores ou apreciadores, temos também a responsabilidade de fazer isso com consciência. Inspirar-se sim, copiar não. Usar ferramentas novas sim, mas sem esquecer quem somos ao longo de todo o processo. Porque, no fim do dia, a beleza da ghibliart está tanto no estilo como na intenção e essa, apenas tu podes controlar.
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