
Floresta – Brincamos com … o Fogo!
Este é o estado em que se encontra parte da Estrada Nacional 236, sem o 1. Mais de três anos volvidos após os grandes incêndios de 2017, é por demais evidente que nada melhorou e tudo piorou.
Que fique claro! Apostar na prevenção, não é começar a cortar o mato a eito ou criar faixas cegas de cinco, dez, ou 20 metros! Não é também, identificar e aplicar coimas aos proprietários que não limpam, pois alguns proprietários só nestas limpezas gastam praticamente todos os seus meios de subsistência. É necessário assumirmos de uma vez por todas, uma transformação conceptual e orgânica da atual “floresta” em Portugal.
É imperioso, mexer nos muitos interesses instalados.
Se queremos ter resultados diferentes, temos que construir processos diferentes. Este é um país estranho, onde se definem planos, se criam novas empresas de gestão florestal e novas secretarias de estado, onde instituições se sobrepõem e atropelam umas às outras na sua atuação diária. Muita burocracia e na maioria apontada para uma gestão de consequências. Muito pouco para a gestão das causas. O resultado, despovoamento, desertificação dos solos, cursos de água a definhar.
Ainda na minha infância, conheci um pouco do Portugal rural de outrora. Cabras que agora de forma ignorante lhes chamam de “sapadoras“, eram às centenas pelas serras. Havia menos floresta, menos monocultura, mais gente e mais agricultura. Incêndios eram igualmente frequentes, contudo, na maioria eram menos perigosos, com menores projeções, de menor altura e de menor espetáculo mediático. Recuando novamente e de forma breve aos solos, estes eram também muito mais ricos (dentro do pobre) que agora, pois a cinza e os dejetos dos rebanhos serviam de fertilizante aos mesmos.
De lá para cá, ou seja, nesta transição do problema dos incêndios rurais para a atualidade e nas tentativas que o país foi fazendo para controlar as suas consequências, juntando ainda o problema das alterações climáticas, fomos conduzidos à significativa perda de valor da nossa “floresta”. Fomos conduzidos à insustentabilidade e dependência a algumas espécies e sectores. Enfim, “escolhemos” e cedemos ao caminho mais fácil.
É essencial que reconheçamos, todos, o erro nesta escolha e o real valor da riqueza associada aos espaços florestais. Pensar numa floresta autóctone a trinta ou quarenta anos é um passo que se tem definitivamente de dar. De que nos vale pensar no agora, se o fogo nos “visita” a cada seis, oito ou dez anos? Os espaços florestais representam 64% do território, que valor retiramos daqui? E daqui a 30 anos? A verdadeira floresta melhora a qualidade da água, protege os solos, e reforça a coesão territorial na salvaguarda de património e promove ainda o turismo de qualidade e diferenciador.
Quantos de nós já procurámos um belo espaço fresco e com biodiversidade florestal e o que encontramos foram locais ou zonas completamente desordenadas e/ou ao abandono? E espécies invasoras? Isto vai acabar quando?
Voltando à imagem que ilustra este artigo, esta é o espelho do país para a área das florestas. Abandono, desleixo… desinteresse. O ROI de uma floresta, continua unicamente a ser medido pelo factor monetário através da sua transação.
Seria difícil ao longo desta estrada nacional plantar sobreiros e outras espécies para que de forma natural, estes servissem de tampão às espécies invasoras?
O futuro faz-se do conhecimento dos nossos antepassados e das suas melhores práticas. Que este conhecimento não caia em esquecimento!
Sem rodeios, sem medos, sem burocracias linguísticas ou de qualquer outro tipo, esta é a verdadeira frente do FOGO!