
ETPZP e o futuro do ensino profissional em Portugal
A Escola Tecnológica e Profissional da Zona do Pinhal (ETPZP) surgiu em Pedrógão Grande num contexto de transformação e adaptação às novas exigências tanto do sistema educativo português, como em resposta às mudanças sociais e económicas que marcaram o final da década de 80. Fundada em 1989, a ETPZP integrou-se no movimento nacional de valorização do ensino profissional, promovido pelo Ministério da Educação com o objetivo de preparar jovens para o mercado de trabalho e contribuir assim para o desenvolvimento das regiões onde se encontravam.
Como antigo estudante, de 1997 a 2000, pude observar que a ETPZP tinha uma notoriedade além da chamada Zona do Pinhal. Cativava estudantes de vários pontos do país, inclusive das ilhas. Professores com carreira empresarial, davam tarimba aos seus alunos na preparação para o “mundo” do trabalho. A criação da ETPZP representou também essa oportunidade de desenvolvimento e uma oportunidade de fixação de jovens na região, contrariando a tendência de migração para os grandes centros urbanos em busca de educação, mas principalmente de emprego. A ETPZP rapidamente tornou-se num centro de dinamização de Pedrógão Grande, promovendo parcerias com empresas, autarquias à volta entre outras entidades, e investindo em projetos de inovação pedagógica que integram ainda hoje tecnologias e práticas profissionais.
Mas, o que falhou e continua a falhar no ensino profissional em Portugal?
As escolas e o ensino profissional em Portugal enfrentam diversos desafios desde a sua criação, que limitaram o seu potencial em algumas áreas, isto apesar de desempenharem um papel fundamental na diversificação da oferta educativa e no combate ao abandono escolar. Foram vários os fatores que no entanto contribuíram para dificuldades do seu funcionamento e na concretização dos objetivos iniciais:
- Estigma Social e Percepção de Menor Prestígio
- Durante muitos anos, o ensino profissional foi visto e continua a ser como uma opção de segunda escolha, frequentemente associada a alunos com dificuldades no ensino regular. Este estigma desvalorizou as escolas tecnológicas e profissionais, afetando a sua capacidade de atrair estudantes motivados e de mudar a percepção pública sobre a qualidade da sua ofertas. Bem me recordo desse tempo e da existência deste estigma.
- Falta de Articulação com o Mercado de Trabalho
- Nalguns casos, os cursos oferecidos pelas escolas não estão suficientemente alinhados com as necessidades reais do nosso mercado de trabalho. O mercado é muito dinâmico ao contrário do processo de candidaturas a novos cursos que é muito burocrático. Isto devolve dificuldades de empregabilidade.
- Recursos Insuficientes
- Apesar de receberem apoio, muitas destas escolas enfrentam dificuldades financeiras. A evolução tecnológica leva rapidamente a falha recursos e equipamentos, mas acima de tudo na capacidade de atrair mais docentes e mais inovação.
- Gestão e Fiscalização
- Problemas relacionados com a gestão interna e mesmo casos pontuais de má gestão ou de foco excessivo no cumprimento de metas administrativas em vez da qualidade pedagógica vão contribuindo para a degradação da reputação de algumas instituições.
- Desafios na Inclusão de Alunos
- Embora o objetivo das escolas seja integrar alunos com diferentes perfis e interesses, muitas delas enfrentaram dificuldades em apoiar estudantes com necessidades educativas especiais ou em risco de abandono escolar, entre outros. Vão faltando estratégias eficazes para garantir o sucesso escolar e a integração social destes alunos. Um desafio não apenas do ensino profissional.
- Falta de Reconhecimento no Ensino Superior
- A ideia de que o Ensino Profissional é um “caminho sem saída”. Desde sempre, e, é mais um estigma, que se vai vendo no Ensino Profissional uma obtenção de um grau académico e ponto. Venha o trabalho. Não! Sempre foi possível seguir caminho para o Ensino Superior.
- Desconexão Regional
- Acontece ao nível do Ensino Superior também. Principalmente no interior do país, a falta de parcerias fortes entre escolas e empresas locais dificulta a criação de programas formativos adaptados às necessidades e oportunidades específicas de cada região.
- Mudanças Frequentes de Políticas Educativas
- A instabilidade nas políticas não apenas para o ensino no geral, mas em concreto para o ensino profissional em particular. Alterações frequentes na legislação, nos modelos de financiamento e nos currículos, vão dificultando uma consolidação de uma estratégia de longo prazo para o sucesso destas escolas profissionais e de alunos. A abertura de cursos profissionais nas escolas do “ensino regular” foi um erro crasso.
Oportunidades Perdidas e Lições Aprendidas
Embora a enfrentar tantos desafios, muitas escolas tecnológicas e profissionais conseguiram superar parte destas dificuldades e continuam a “estrebuchar” e a contribuir positivamente para o sistema educativo em Portugal. Orgulho-me de ter passado por este tipo de Ensino e na época em que o passei. No entanto, é necessário reforçar o investimento em recursos, melhorar a articulação com o sector empresarial, combater o estigma social e assegurar uma gestão eficiente e transparente. Pelas lições do passado e do presente, estas apontam para a importância de uma abordagem integrada e sustentada, que valorize o ensino profissional como uma alternativa igualmente digna e relevante para o futuro dos jovens.
Para concluir e voltando à ETPZP, esta consolidou uma posição e uma referência no ensino profissional na região da Zona do Pinhal. Faço votos sinceros que continue e reforce este percurso marcado por sucessos mas muito ingrato também. Que continue a integração dos seus alunos no mercado de trabalho, na melhoria contínua das infraestruturas e equipamentos, e no reconhecimento da qualidade dos seus programas de formação. Que a ETPZP continue a desempenhar um papel essencial no fortalecimento do tecido social e económico da minha região, preparando estas novas gerações para os desafios de um futuro em constante evolução. Mas para isso, será necessário acertar agulhas. Assim o espero.