Porque fotografo em formato RAW?
Porque fotografo em formato RAW? Sempre que saio com a intenção de tirar umas fotografias, já sei de antemão qual o formato que vou fotografar. Exato, RAW. Ou, no caso das minhas Nikon, .NEF.
Para uns, pode parecer uma escolha mais técnica, para os outros irrelevante. Para mim, acaba por ser uma extensão do cuidado que tenho pelo resultado que espero das minhas fotografias, falando de forma mais abstrata, pela forma como pretendo registar e mostrar ao “mundo” aquilo que vejo. Especialmente este cantinho chamado Castanheira de Pera e Serra da Lousã.
Quem me conhece sabe que não passo muito tempo sem dar uma volta à procura de algo diferente, ou que pelo menos eu o ache assim. Por vezes a leveza do silêncio por entre pinhais ou soutos, o sussurro das folhas ao vento, o contraste entre a luz dourada e a neblina que dança nas manhãs frias da serra, é o que necessito para o meu dia a dia, para desempenhar a minha profissão ou até o meu papel enquanto membro de família. E é exatamente este tipo de detalhes, a textura da luz, o grão nas sombras, o verdadeiro tom do céu ou das águas límpidas da Ribeira de Pera, que só o formato RAW consegue preservar com fidelidade. E nestes dois parágrafos estão a resposta a muitos que me perguntam… “Aquela fotografia é montagem não é?” Não.
Mas afinal, o que é o RAW?
O RAW não é mais do que um ficheiro cru. Ou seja, um ficheiro que contém toda a informação captada pelo sensor da máquina fotográfica, sem compressão, sem alterações, sem filtros automáticos. Basicamente é como ter um negativo digital, com todos os dados brutos prontos a serem revelados com tempo, paciência e claro com criatividade. Ao contrário do formato JPEG, que já vem “cozinhado” pela máquina, o RAW é como um prato que ainda temos de temperar ao nosso gosto e isto, meus amigos, é onde a magia se inicia.
JPEG: Rápido, mas limitador
Com isto não estou a afirmar que fotografar em JPEG não tem utilidade. É verdade que é prático, leve, pronto a ser partilhado nas redes sociais. É ideal para quem quer rapidez, para quem não quer perder tempo em pós-produção. Em fotografia de desporto, como os Ralis por exemplo, raramente tiro fotografias em RAW. Mas é aqui que as coisas se complicam. O JPEG descarta informação. Comprime os dados. Aplica automaticamente nitidez, contraste e saturação, baseado em algoritmos que nem sempre sabem ou correspondem ao que eu pretendo com a minha imagem.
Vamos imaginar que estou logo pela manhã na Safra e o sol está a nascer por trás das montanhas vindo de Oleiros. Algum nevoeiro cobre parcialmente os vales e há um veado a cerca de 50 metros. Fazes o “disparo”. Se estiveres em modo JPEG, a tua máquina vai decidir o que é mais importante e talvez ela clareie as sombras e estoire os brancos, ou talvez sature o céu azul e esqueça os tons dourados da vegetação. Já em modo RAW, és tu quem decide o que valorizar, o que escurecer, ou o que revelar.
A liberdade de editar
Fotografar em RAW dá-me então… liberdade. E, sinceramente, liberdade é um luxo que eu não abdico. Quando regresso a casa depois de uma caminhada, ainda com os momentos frescos na memória, na minha e não na do cartão, vou então “revelar” as fotos. Assim, não é apenas editar é reviver. E o RAW permite fazermos isso com uma maior profundidade mental até.
Consigo corrigir exposições sem degradar a imagem. Consigo recuperar detalhes nas altas luzes ou sombras mais profundas. Posso ajustar o balanço de brancos com uma precisão que o JPEG nunca me permitiria. Já tive fotos que à primeira vista poderiam parecer “perdidas”, mas que em RAW ganham vida com alguns ajustes no Photoshop ou mesmo Photopea.
É como se a imagem estivesse lá, escondida, à espera de ser trazida à “luz do dia”.
Um compromisso com a qualidade
Ao fotografar em RAW, estou a fazer uma promessa a mim mesmo, não me contentar com o mínimo. Estou a dizer que cada fotografia merece o melhor de mim, seja ela de um velho carvalho ou castanheiro junto à estrada ou de um pôr do sol. Cada “disparo” tem uma história. E o RAW permite-me contá-la com toda a intensidade, com todo o detalhe e com toda a verdade.
Sim, os ficheiros são maiores. Sim, exigem mais trabalho. Mas como tudo na vida, aquilo que dá mais trabalho também vale mais a pena.
O mais bonito de tudo é que, ao editar uma fotografia em RAW, consigo regressar com uma nova perspetiva. Aquilo que captei numa manhã fria ou numa tarde quente, ganha uma outra vida. Não se trata apenas de documentar, trata-se de interpretar. Dar um toque pessoal, uma emoção pessoal. Acaba por ser isto que transforma cada imagem em algo profundamente pessoal.
Fotografar em RAW é, para mim, uma escolha natural. Não se trata de técnica, mas de um compromisso com a verdade da imagem através de arte e da emoção. É guardar uma memória apreciada pelos tempos.
Assim, o RAW é o meu parceiro de eleição.
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