21 Julho, 2025 0 Comments

Porque fotografo em formato RAW?

Porque fotografo em formato RAW? Sempre que saio com a intenção de tirar umas fotografias, já sei de antemão qual o formato que vou fotografar. Exato, RAW. Ou, no caso das minhas Nikon, .NEF.

 

Para uns, pode parecer uma escolha mais técnica, para os outros irrelevante. Para mim, acaba por ser uma extensão do cuidado que tenho pelo resultado que espero das minhas fotografias, falando de forma mais abstrata, pela forma como pretendo registar e mostrar ao “mundo” aquilo que vejo. Especialmente este cantinho chamado Castanheira de Pera e Serra da Lousã.

Quem me conhece sabe que não passo muito tempo sem dar uma volta à procura de algo diferente, ou que pelo menos eu o ache assim. Por vezes a leveza do silêncio por entre pinhais ou soutos, o sussurro das folhas ao vento, o contraste entre a luz dourada e a neblina que dança nas manhãs frias da serra, é o que necessito para o meu dia a dia, para desempenhar a minha profissão ou até o meu papel enquanto membro de família. E é exatamente este tipo de detalhes, a textura da luz, o grão nas sombras, o verdadeiro tom do céu ou das águas límpidas da Ribeira de Pera, que só o formato RAW consegue preservar com fidelidade. E nestes dois parágrafos estão a resposta a muitos que me perguntam… “Aquela fotografia é montagem não é?” Não.

Mas afinal, o que é o RAW?

O RAW não é mais do que um ficheiro cru. Ou seja, um ficheiro que contém toda a informação captada pelo sensor da máquina fotográfica, sem compressão, sem alterações, sem filtros automáticos. Basicamente é como ter um negativo digital, com todos os dados brutos prontos a serem revelados com tempo, paciência e claro com criatividade. Ao contrário do formato JPEG, que já vem “cozinhado” pela máquina, o RAW é como um prato que ainda temos de temperar ao nosso gosto e isto, meus amigos, é onde a magia se inicia.

 

JPEG: Rápido, mas limitador

Com isto não estou a afirmar que fotografar em JPEG não tem utilidade. É verdade que é prático, leve, pronto a ser partilhado nas redes sociais. É ideal para quem quer rapidez, para quem não quer perder tempo em pós-produção. Em fotografia de desporto, como os Ralis por exemplo, raramente tiro fotografias em RAW. Mas é aqui que as coisas se complicam. O JPEG descarta informação. Comprime os dados. Aplica automaticamente nitidez, contraste e saturação, baseado em algoritmos que nem sempre sabem ou correspondem ao que eu pretendo com a minha imagem.

Vamos imaginar que estou logo pela manhã na Safra e o sol está a nascer por trás das montanhas vindo de Oleiros. Algum nevoeiro cobre parcialmente os vales e há um veado a cerca de 50 metros. Fazes o “disparo”. Se estiveres em modo JPEG, a tua máquina vai decidir o que é mais importante e talvez ela clareie as sombras e estoire os brancos, ou talvez sature o céu azul e esqueça os tons dourados da vegetação. Já em modo RAW, és tu quem decide o que valorizar, o que escurecer, ou o que revelar.

 

A liberdade de editar

Fotografar em RAW dá-me então… liberdade. E, sinceramente, liberdade é um luxo que eu não abdico. Quando regresso a casa depois de uma caminhada, ainda com os momentos frescos na memória, na minha e não na do cartão, vou então “revelar” as fotos. Assim, não é apenas editar é reviver. E o RAW permite fazermos isso com uma maior profundidade mental até.

Consigo corrigir exposições sem degradar a imagem. Consigo recuperar detalhes nas altas luzes ou sombras mais profundas. Posso ajustar o balanço de brancos com uma precisão que o JPEG nunca me permitiria. Já tive fotos que à primeira vista poderiam parecer “perdidas”, mas que em RAW ganham vida com alguns ajustes no Photoshop ou mesmo Photopea.

É como se a imagem estivesse lá, escondida, à espera de ser trazida à “luz do dia”.

 

Um compromisso com a qualidade

Ao fotografar em RAW, estou a fazer uma promessa a mim mesmo, não me contentar com o mínimo. Estou a dizer que cada fotografia merece o melhor de mim, seja ela de um velho carvalho ou castanheiro junto à estrada ou de um pôr do sol. Cada “disparo” tem uma história. E o RAW permite-me contá-la com toda a intensidade, com todo o detalhe e com toda a verdade.

Sim, os ficheiros são maiores. Sim, exigem mais trabalho. Mas como tudo na vida, aquilo que dá mais trabalho também vale mais a pena.

O mais bonito de tudo é que, ao editar uma fotografia em RAW, consigo regressar com uma nova perspetiva. Aquilo que captei numa manhã fria ou numa tarde quente, ganha uma outra vida. Não se trata apenas de documentar, trata-se de interpretar. Dar um toque pessoal, uma emoção pessoal. Acaba por ser isto que transforma cada imagem em algo profundamente pessoal.

Fotografar em RAW é, para mim, uma escolha natural. Não se trata de técnica, mas de um compromisso com a verdade da imagem através de arte e da emoção. É guardar uma memória apreciada pelos tempos.

Assim, o RAW é o meu parceiro de eleição.

 

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30 Março, 2025 0 Comments

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8 Fevereiro, 2025 0 Comments

Galerias Ripícolas: Guardiãs da Biodiversidade Hídrica

Cada vez que faço uma incursão pelas galerias ripícolas da Ribeira de Pera, Cavalete ou das Quelhas, ou mesmo de outro curso de água idêntico em Portugal, é com uma enorme admiração e respeito que o faço. Essencialmente pelo conhecimento dos nossos antepassados no aproveitamento das galerias ripícolas.

 

As galerias ripícolas são ecossistemas imprescindíveis para a biodiversidade e sustentabilidade ambiental dos nossos cursos de água, em específico nos cursos ao longo das ribeiras que acima mencionei. Estas, digamos que formações vegetais, são compostas por uma diversidade de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas que desempenham um papel crucial tanto na estabilidade das margens, como na qualidade da própria água e na manutenção da fauna e da flora.

 

A presença das galerias ripícolas está intimamente ligada à diversidade climática e geográfica de um território. Estas “comunidades vegetais” variam em composição, dependendo da região do país e das condições hidrológicas dos cursos de água que as sustentam. Por exemplo, tanto a norte como no centro do país, as galerias ripícolas são dominadas maioritariamente por espécies como o amieiro (Alnus glutinosa), o freixo (Fraxinus angustifolia) e o salgueiro (Salix spp.). Nas regiões mais secas, ou seja a sul do país, encontram-se espécies mais adaptadas a climas mediterrânicos, como o tamargueiro (Tamarix spp.) e algumas variedades de choupo (Populus spp.).

A importância destas galerias ripícolas vai muito além da sua função ecológica mais imediata. Atuam como barreiras naturais contra a erosão, prevenindo o assoreamento dos cursos de água e assim, garantindo uma melhor qualidade da água. A vegetação ripícola também desempenha um papel crucial na regulação térmica das águas, fornecendo sombra e contribuindo para a manutenção das temperaturas ideais para diversas espécies aquáticas, no caso da Ribeira de Pera, a truta. Pegando na truta, ainda acrescentar que as galerias ripícolas são um habitat para uma vasta gama de espécies animais, incluindo aves, mamíferos, répteis e anfíbios. Muitos destes animais dependem destes ecossistemas para a sua alimentação, reprodução e proteção contra os seus predadores. Espécies emblemáticas como a lontra (Lutra lutra) e diversas aves ripícolas, como o guarda-rios (Alcedo atthis), encontram refúgio nestes locais, tornando-as essenciais para a conservação da biodiversidade.

 

Não queria no entanto deixar de manifestar a minha preocupação com as diversas ameaças que estes locais enfrentam. A destruição e a fragmentação destas formações devido a diversos fatores como a urbanização, agricultura, construção de infraestruturas hídricas, no entanto e principalmente, o abandono. Todos estes fatores vão comprometendo a sua integridade ao longo do tempo. A “introdução” de espécies invasoras, como a acácia (Acacia spp.) e o ailanto (Ailanthus altissima), também representam desafios significativos. Assim, a proteção e recuperação de galerias ripícolas requerem uma abordagem integrada e multidisciplinar com medidas que implementem uma gestão sustentável, como corredores ecológicos, a reabilitação das margens degradadas e a remoção de espécies exóticas invasoras, ações fundamentais para garantir a sua preservação.

Os mosaicos florestais, os vários projetos de reflorestação com espécies autóctones, assim como os condomínios de aldeia, têm sido importantes na recuperação da funcionalidade ecológica destes sistemas.

 

Ribeira do Cavalete – Castanheira de Pera | Serra da Lousã

Para além das iniciativas quer de um âmbito governamental quer institucional, é essencial também envolver as comunidades locais nesta proteção destes habitats. Educar sobre a importância destas galerias ripícolas e a promoção de boas práticas de uso da terra irão contribuir significativamente para uma preservação a longo prazo. Programas de pedestrianismo, educativos junto das escolas, podem incentivar a uma participação ativa na monitorização e na proteção destes ecossistemas.

 

Para concluir, dizer uma vez mais que as galerias ripícolas desempenham um papel imprescindível na manutenção da biodiversidade, na proteção dos recursos hídricos e na estabilidade ecológica dos nossos cursos de água. No entanto, para que continuem a cumprir estas funções, é fundamental implementar estratégias eficazes de conservação e gestão das mesmas. Uma conjugação de esforços entre entidades governamentais, académicas e sociedade civil é um objetivo a seguir para assegurar a perenidade destes ecossistemas, garantindo um futuro mais sustentável para os rios e ribeiras do nosso país.

 

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18 Janeiro, 2025 0 Comments

A silhueta escura da turbina

Passar algumas horas pela serra, num dia fresco de inverno, à espera do momento certo para disparar o obturador, é algo que exige alguma paciência. Mas quando o resultado, como o desta imagem, sai do cartão de memória, valeu a pena o “esforço”. 

Estas turbinas eólicas dominam a paisagem da serra. O contraste com a natureza, é por demais evidente. Nesta fotografia, quis captar a “harmonia” entre os avanços tecnológicos e a beleza natural da Serra da Lousã. A escolha do enquadramento não foi ao acaso; andei um pouquinho de um lado para o outro, testando diferentes perspectivas, até encontrar a “composição ideal”.

A luz foi um desafio. No inverno, o sol “desce” depressa e os tons do céu mudam a cada  segundo. Ajustar a exposição, encontrar o equilíbrio certo entre sombra e brilho, e ainda garantir que o vento não me fazia perder o enquadramento desejado exigiu alguma concentração. Mas aquele instante em que o sol ficou exatamente onde eu queria foi um momento de pura realização.

Fotografar é mais do que apenas carregar num botão, está em todos os livros de fotografia e é algo que todos compreenderão. Na verdade é estar presente, sentir o ambiente, antecipar a luz, ajustar os parâmetros e esperar pacientemente pelo instante certo. Depois é chegar a casa e descarregar o cartão e … temos uma memória perpétua.

 

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5 Janeiro, 2025 0 Comments

O Segredo dos nossos dados

A informação passou a ser dos recursos mais valiosos do mundo. Cada clique, cada interação e cada segundo que passamos online geram dados que são recolhidos, analisados e utilizados quer por empresas quer por governos. Mas até que ponto temos consciência do que acontece com as nossas informações pessoais? Quem é que realmente controla estes dados e quais são as implicações para a nossa privacidade e liberdade?

O segredo dos nossos dados, está mesmo em segredo?

Clive Humby, um matemático britânico e pioneiro na análise de dados, refere que os dados são o novo petróleo. Certo é que grandes empresas de tecnologia têm construído verdadeiros impérios baseados na recolha e análise de informações dos utilizadores, os dados. A Google, Facebook, Amazon e tantas outras empresas, dependem dos nossos dados para otimizar todos os seus serviços para assim direcionar anúncios e, mais preocupante ainda, prever e influenciar comportamentos. Através de algoritmos finos, estas empresas conseguem mapear interesses, antecipar desejos e até manipular decisões. O que antes era apenas publicidade personalizada, agora extravasa a áreas como a política, economia e até mesmo à saúde. A questão é: até que ponto estamos dispostos a trocar a nossa privacidade por conveniência?

Muitas plataformas continuam a afirmar que nós enquanto utilizadores, temos o poder de controlar os nossos dados, através das configurações de privacidade. Estas opções no entanto, são na maioria das vezes, complexas e “escondidas” em longos termos de uso que poucos têm vontade de ler. Mesmo após ajustarmos as nossas preferências, continuamos a fornecer dados a cada interação digital, muitas vezes sem nos apercebermos. Há ainda uma falta de transparência sobre como estas informações são utilizadas. Por exemplo, os dados que partilhamos com uma aplicação podem ser vendidos a terceiros sem o nosso conhecimento. Estas empresas utilizam os nossos dados para criar perfis detalhados (personas) que podem ser usados para nos vender produtos, moldar opiniões políticas ou influenciar comportamentos, tudo isto de forma imperceptível.

As redes sociais são um claro exemplos de como os dados são usados para moldar comportamentos. Os algoritmos determinam o que vemos nos nossos feeds, priorizando conteúdos que geram maior envolvimento, criando bolhas de informação, onde somos expostos apenas a opiniões semelhantes às nossas, reforçando crenças e dificultando um debate saudável. Este fenómeno contribui para a tão mencionada polarização da sociedade, já que diferentes grupos recebem informações distintas e muitas vezes manipuladas. A propagação de fake news é assim facilitada, pois conteúdos sensacionalistas tendem a gerar mais interações e, consequentemente, são mais promovidos pelos algoritmos. O exemplo da ida do homem à Lua, é flagrante.

Este uso de dados não é limitado apenas às empresas e ao privado. Os Governos também estão a recorrer à vigilância digital para monitorizar cidadãos sob o pretexto de uma segurança nacional. Tecnologias de reconhecimento facial, monitorização de redes sociais e armazenamento massivo de comunicações, são algumas das ferramentas utilizadas. Estas medidas, embora sejam muitas vezes justificadas como forma de combater o crime, têm a sua implementação sem regulamentação adequada o representa uma ameaça às liberdades individuais. A privacidade é um direito fundamental e, quando comprometida, pode levar a um estado de vigilância constante onde cada ação é registada e potencialmente usada contra as pessoas.

Os dados também não são usados apenas para publicidade e segurança. Empresas de saúde e seguradoras estão cada vez mais interessadas nas informações médicas e nos hábitos das pessoas. Com o avanço da inteligência artificial, já é possível prever doenças e criar tratamentos personalizados baseados em análise de grandes volumes de dados. Esta utilização levanta também ela, questões éticas. Se os dados de saúde forem utilizados de forma inadequada, podem levar à discriminação no acesso tanto a seguros como até no acesso ao emprego. Uma pessoa com um histórico de doenças pode ver as suas oportunidades reduzidas devido a perfis de risco que as próprias empresas criam. Também aqui, a falta de regulamentação adequada pode resultar em injustiças e aumentar as desigualdades sociais.

Chegámos ao Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD). A União Europeia foi um dos primeiros a dar passos para tentar devolver aos cidadãos o controlo sobre os seus dados. Ainda assim, muitas empresas procuram formas de contornar estas leis, tornando assim necessário um reforço nas políticas de proteção de dados. A legislação pode e deve evoluir para garantir maior transparência e responsabilização das empresas que recolhem e utilizam os nossos dados. Os cidadãos também necessitam de mais ferramentas para estar mais conscientes sobre como os seus dados são tratados e exigir mais proteção e direitos sobre as suas próprias informações.

A responsabilidade também recai assim sobre cada um de nós. A nossa responsabilização e conhecimento sobre o tema. Pequenas ações, como verificar que permissões são ou não concedidas às aplicações, a utilização de navegadores focados na privacidade e evitar também o uso excessivo de redes sociais. São tudo ações que podem fazer a diferença. Também o recurso a ferramentas como VPNs, bloqueadores de rastreadores e motores de busca alternativos podem ajudar a minimizar a nossa exposição online. Mais importante ainda, precisamos de promover a literacia digital. Devemos ter presente desde cedo a importância da privacidade e os riscos associados à partilha excessiva de informações. A consciencialização é a primeira linha de defesa contra a exploração dos nossos dados.

O segredo dos nossos dados é que, na realidade, eles deixaram de ser nossos. Vivemos numa sociedade onde a informação tornou-se numa moeda de troca, e a nossa privacidade é o preço a pagar pela nossa conveniência digital. Estaremos condenados a este destino? Com uma regulamentação adequada, maior transparência e mudanças nos nossos hábitos, podemos ainda recuperar parte do controlo sobre parte ou mesmo um todo das nossas informações.

A questão principal que se coloca é: estamos dispostos a lutar por este direito ou vamos continuar a ceder os nossos dados em troca de um mundo aparentemente mais conectado, mas profundamente e cada vez mais controlado?

 

29 Dezembro, 2024 0 Comments

Mapa Mercator versus Mapa AuthaGraph

O Mapa Mercator versus Mapa AuthaGraph. Temos olhado durante séculos para um mundo “distorcido”. Isto é, olhando à maioria dos mapas que aprendemos a utilizar, como o famoso mapa de Mercator, criado em 1569, este acaba por falhar na representação da Terra. Esta projeção aumenta desproporcionalmente as regiões no hemisfério norte, pensemos, por exemplo, no tamanho exagerado da Gronelândia, face a África que parecem ser idênticos em tamanho, quando, na realidade, África é 14 vezes maior! Este mapa tradicional além de ter sido uma ferramenta prática para a navegação marítima, ajudou também a perpetuar uma visão bastante eurocêntrica do mundo.

Foi na década de 70, que o jornalista alemão Arno Peters “denunciou” estas distorções, propondo então alternativas que desafiassem a hegemonia do mapa de Mercator. No entanto, só mais recentemente surgiu uma solução verdadeiramente inovadora: o Mapa AuthaGraph. Este mapa foi criado pelo arquiteto e artista japonês Hajime Narukawa e é considerado, por muitos, o retrato mais preciso do nosso planeta até hoje. Tanto que venceu o prestigiado Good Design Award no Japão.

Então, o que faz com que o Mapa AuthaGraph seja assim tão especial? Priemeiro, cria uma ruptura com os paradigmas habituais ao dividir o globo terrestre em 96 triângulos. São estes triângulos que depois acabam por ser projetados num tetraedro, e que por fim é desdobrado num retângulo. Este método elimina as distorções clássicas, como o exagero das áreas perto dos polos, ao mesmo tempo que mantém as proporções corretas entre os continentes e os oceanos. Além disto, a versatilidade do mapa permite que ele seja “remontado”, colocando qualquer região no centro sem perder a necessária precisão geográfica. É, literalmente, uma nova forma de vermos o mundo.

Esta abordagem acaba por não ser apenas uma questão de precisão científica. Num momento em que enfrentamos desafios globais como o derreter dos glaciares, a subida do nível do mar e disputas sobre recursos marítimos, um mapa que dá esta atenção a oceanos e regiões polares como aos continentes, é crucial. Ele convida-nos a olhar para o planeta de uma forma mais integrada e interligada, promovendo ao mesmo tempo uma consciência global.

Ao observar esta imagem do Mapa AuthaGraph, acabo por sentir que há algo profundamente inspirador na ideia de desconstruir e reconstruir a nossa visão do mundo. Não só nos desafia perante os preconceitos históricos, como também nos faz recordar da beleza e complexidade do nosso planeta. Talvez com esta nova perspectiva, seja exatamente o que precisamos para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança. Afinal, compreendermos o planeta é o primeiro passo para cuidarmos dele.

 

The AuthaGraphy projection

25 Dezembro, 2024 0 Comments

“Introducing Portugal | NATO Documentary | 1955”

De quando em vez, revejo o documentário da NATO “Introducing Portugal | The Atlantic Community Series | NATO Documentary | 1955”. É-nos apresentado como uma obra que combina a geografia, cultura, economia e o papel estratégico de Portugal dentro da Aliança Atlântica. Produzido em plena década de 50, é um retrato oficial que reflete não só a visão de Portugal como aliado ocidental, mas também “insinua” o esforço de projeção internacional de um regime que desejava ser reconhecido e respeitado no palco internacional.

Para um espectador de Castanheira de Pera, o filme ganha um significado especial ao incluir referências específicas e imagens de locais familiares. Por exemplo, ao minuto 5:45, surgem no nosso ecrã, o Santo António da Neve, local da então freguesia do Coentral Grande. Um sítio com história ligada ao armazenamento de neve, que servia Lisboa, e simbolizava o engenho e a resiliência das comunidades serranas desta região. Ver aqueles Poços de Neve em 1955, é um momento, é um testemunho visual de tradições profundamente enraizadas na Serra da Lousã, revelando um orgulho coletivo pela tenacidade e trabalho destas gentes.

Mais à frente, ao minuto 6:14, vemos a aldeia do Candal, a terra dos meus avós maternos, uma aldeia de xisto, a mais bonita aldeia de xisto incrustada na paisagem serrana. Aqui observamos um pequeno vislumbre do modo de vida rural, sublinhado pela simplicidade, autenticidade e a forte ligação à terra que caracteriza a região. Imagens que apelam à minha memória familiar e à minha continuidade e identidade enquanto pessoa e cidadão.

Rebanho na aldeia do Candal – Lousã (1955)

Apesar de todo o fascínio cultural e pitoresco, não posso ignorar que este documentário é também apresentado como uma peça de propaganda ao regime de Salazar. Filmado em plena vigência do Estado Novo, esta obra exalta a imagem de um país em harmonia, trabalhador e disciplinado, sem mencionar as restrições de liberdade e as desigualdades sociais que marcavam a realidade. Este tipo de produção audiovisual visava mostrar Portugal como um aliado forte e estável dentro da NATO, escondendo a repressão política e os limites impostos às vozes dissonantes da época. A narrativa construída é um reflexo de como o regime procurava projetar uma imagem controlada e idealizada no exterior, disfarçando-se de modernidade e estabilidade em pleno contexto de Guerra Fria. Ao mesmo tempo, onde estamos perante uma cápsula do tempo fascinante e repleta de detalhes históricos e culturais, estamos também a ver um “veículo” de propaganda que nos lembra da complexidade de interpretar o passado com uma visão crítica e informada. Tal combinação de beleza e controvérsia faz do documentário um material essencial para compreender as múltiplas camadas da história portuguesa e os desafios de conciliar memória e verdade.

Deixo a recomendação.

 

Veja o documentário de 1955 no youtube

13 Dezembro, 2024 0 Comments

ETPZP e o futuro do ensino profissional em Portugal

A Escola Tecnológica e Profissional da Zona do Pinhal (ETPZP) surgiu em Pedrógão Grande num contexto de transformação e adaptação às novas exigências tanto do sistema educativo português, como em resposta às mudanças sociais e económicas que marcaram o final da década de 80. Fundada em 1989, a ETPZP integrou-se no movimento nacional de valorização do ensino profissional, promovido pelo Ministério da Educação com o objetivo de preparar jovens para o mercado de trabalho e contribuir assim para o desenvolvimento das regiões onde se encontravam.

Como antigo estudante, de 1997 a 2000, pude observar que a ETPZP tinha uma notoriedade além da chamada Zona do Pinhal. Cativava estudantes de vários pontos do país, inclusive das ilhas. Professores com carreira empresarial, davam tarimba aos seus alunos na preparação para o “mundo” do trabalho. A criação da ETPZP representou também essa oportunidade de desenvolvimento e uma oportunidade de fixação de jovens na região, contrariando a tendência de migração para os grandes centros urbanos em busca de educação, mas principalmente de emprego. A ETPZP rapidamente tornou-se num centro de dinamização de Pedrógão Grande, promovendo parcerias com empresas, autarquias à volta entre outras entidades, e investindo em projetos de inovação pedagógica que integram ainda hoje tecnologias e práticas profissionais.

 

Mas, o que falhou e continua a falhar no ensino profissional em Portugal?

 

As escolas e o ensino profissional em Portugal enfrentam diversos desafios desde a sua criação, que limitaram o seu potencial em algumas áreas, isto apesar de desempenharem um papel fundamental na diversificação da oferta educativa e no combate ao abandono escolar. Foram vários os fatores que no entanto contribuíram para dificuldades do seu funcionamento e na concretização dos objetivos iniciais:

  • Estigma Social e Percepção de Menor Prestígio
    • Durante muitos anos, o ensino profissional foi visto e continua a ser como uma opção de segunda escolha, frequentemente associada a alunos com dificuldades no ensino regular. Este estigma desvalorizou as escolas tecnológicas e profissionais, afetando a sua capacidade de atrair estudantes motivados e de mudar a percepção pública sobre a qualidade da sua ofertas. Bem me recordo desse tempo e da existência deste estigma.
  • Falta de Articulação com o Mercado de Trabalho
    • Nalguns casos, os cursos oferecidos pelas escolas não estão suficientemente alinhados com as necessidades reais do nosso mercado de trabalho. O mercado é muito dinâmico ao contrário do processo de candidaturas a novos cursos que é muito burocrático. Isto devolve dificuldades de empregabilidade.
  • Recursos Insuficientes
    • Apesar de receberem apoio, muitas destas escolas enfrentam dificuldades financeiras. A evolução tecnológica leva rapidamente a falha recursos e equipamentos, mas acima de tudo na capacidade de atrair mais docentes e mais inovação.
  • Gestão e Fiscalização
    • Problemas relacionados com a gestão interna e mesmo casos pontuais de má gestão ou de foco excessivo no cumprimento de metas administrativas em vez da qualidade pedagógica vão contribuindo para a degradação da reputação de algumas instituições.
  • Desafios na Inclusão de Alunos
    • Embora o objetivo das escolas seja integrar alunos com diferentes perfis e interesses, muitas delas enfrentaram dificuldades em apoiar estudantes com necessidades educativas especiais ou em risco de abandono escolar, entre outros. Vão faltando estratégias eficazes para garantir o sucesso escolar e a integração social destes alunos. Um desafio não apenas do ensino profissional.
  • Falta de Reconhecimento no Ensino Superior
    • A ideia de que o Ensino Profissional é um “caminho sem saída”. Desde sempre, e, é mais um estigma, que se vai vendo no Ensino Profissional uma obtenção de um grau académico e ponto. Venha o trabalho. Não! Sempre foi possível seguir caminho para o Ensino Superior.
  • Desconexão Regional
    • Acontece ao nível do Ensino Superior também. Principalmente no interior do país, a falta de parcerias fortes entre escolas e empresas locais dificulta a criação de programas formativos adaptados às necessidades e oportunidades específicas de cada região.
  • Mudanças Frequentes de Políticas Educativas
    • A instabilidade nas políticas não apenas para o ensino no geral, mas em concreto para o ensino profissional em particular. Alterações frequentes na legislação, nos modelos de financiamento e nos currículos, vão dificultando uma consolidação de uma estratégia de longo prazo para o sucesso destas escolas profissionais e de alunos. A abertura de cursos profissionais nas escolas do “ensino regular” foi um erro crasso.

 

Oportunidades Perdidas e Lições Aprendidas

Embora a enfrentar tantos desafios, muitas escolas tecnológicas e profissionais conseguiram superar parte destas dificuldades e continuam a “estrebuchar” e a contribuir positivamente para o sistema educativo em Portugal. Orgulho-me de ter passado por este tipo de Ensino e na época em que o passei. No entanto, é necessário reforçar o investimento em recursos, melhorar a articulação com o sector empresarial, combater o estigma social e assegurar uma gestão eficiente e transparente. Pelas lições do passado e do presente, estas apontam para a importância de uma abordagem integrada e sustentada, que valorize o ensino profissional como uma alternativa igualmente digna e relevante para o futuro dos jovens.

Para concluir e voltando à ETPZP, esta consolidou uma posição e uma referência no ensino profissional na região da Zona do Pinhal. Faço votos sinceros que continue e reforce este percurso marcado por sucessos mas muito ingrato também. Que continue a integração dos seus alunos no mercado de trabalho, na melhoria contínua das infraestruturas e equipamentos, e no reconhecimento da qualidade dos seus programas de formação. Que a ETPZP continue a desempenhar um papel essencial no fortalecimento do tecido social e económico da minha região, preparando estas novas gerações para os desafios de um futuro em constante evolução. Mas para isso, será necessário acertar agulhas. Assim o espero.

 

7 Janeiro, 2024 0 Comments

A magia do inverno

No inverno, a natureza despe-se na sua exuberância, transformando-se num palco de elegância silenciosa. As paisagens tornam-se pinturas vivas, cobertas por um véu despido e por vezes branco. Um brilhante que transforma cada parcela de terra num quadro de tranquilidade. As árvores, outrora vestidas em folhas de ouro e rubis, agora revelam os seus galhos entrelaçados, despidos de vaidade, mas carregados de histórias e promessas.

À medida que a neve dança suavemente do céu, cada floco é um fragmento de poesia que se deposita com irreverência. O silêncio do inverno, é a natureza a sussurrar os seus segredos mais profundos, aos ouvidos dos mais atentos.

As manhãs de inverno surgem envoltas em névoas celestiais, onde o sol se esforça para romper uma cortina de gelo. A luz dourada, filtrada pelo véu gélido, pinta a paisagem com tons suaves e acolhedores. É o despertar da natureza, um momento efémero em que a luz e a sombra dançam numa coreografia perfeita, iluminando o caminho para um novo dia.

As árvores de folha caduca, agora desprovidas de sua vestimenta sazonal, revelam a complexidade da sua estrutura. Os galhos, como braços estendidos, parecem aguardar a promessa da primavera, a promessa de renovação. É a serenidade da espera, a confiança de que a beleza ressurgirá mesmo nos momentos mais frios e silenciosos.

Nas noites gélidas do inverno, o céu é uma imensidão cintilante de estrelas, pontuada pela presença majestosa da lua. O ar cortante carrega uma sensação de magia, como se cada fôlego fosse uma aura misteriosa. Sob o manto estrelado, a quietude intensifica-se, convidando a uma contemplação sobre a vastidão do universo.

No aconchego dos nossos lares, os estalidos da lenha nas lareiras ecoam como se de uma canção se tratasse. O calor no interior das nossas casas, cria contraste com o frio impiedoso do lado de fora.

O inverno não é apenas uma estação do ano, mas um capítulo das nossas vidas na narrativa que é a natureza e a química. É um período de introspeção, de apreciação pela beleza e simplicidade.

O inverno, na sua essência, é uma obra-prima de serenidade e … renovação.

Até breve,
Jorge Nunes

11 Novembro, 2023 0 Comments

A Sony a “mudar as regras” da fotografia

A Sony a mudar as regras da fotografia, como?
Apresentou o seu novo modelo Alpha 9 III, em que se destaca logo à partida pelo seu sensor de imagem full-frame com sistema de obturador global. Ou seja, todos os pixels que compõem a imagem feita pela máquina são expostos e processados ao mesmo tempo, diferente do que se vê em todos os outros modelos, com processamentos “em série”. A Sony afirma ainda que este novo modelo não cria distorções nas fotografias e acrescenta a tecnologia de pré-captura de 0,1 até 1 segundo antes do botão do obturador ser totalmente pressionado. Ou seja, com a seleção na máquina de pré-captura podemos recuar até 1 segundo na obtenção de uma fotografia.

Como utilizador de sistemas Nikon, uma marca que confio desde há muito, vejo a Sony a elevar bastante a fasquia sendo que, toda a concorrência vai ter de acelerar o passo em busca de algo para que possam concorrer com estas novas “features” da Sony. Incrível!

Deixo-vos com o vídeo da Sony a apresentar o novo modelo Alpha 9 III.